Afinal, qual é o momento certo de levantarmos a mão e dizermos que temos um problema? Como fazer isso?

Frequentemente vemos que problemas de comunicação interna potencializam os problemas de algum processo, produto ou serviço.

Pense bem, se você fosse o chefe, como você gostaria de ficar sabendo de algum problema relacionado à sua operação?

Imagine só o seguinte cenário:

Você identificou um problema, diante da sua estrutura organizacional este problema deve ser tratado pela sua área e você é funcionário responsável por isso.

Você está tentando resolver o problema por conta própria. Afinal, você quer mostrar que é um profissional que dá conta do recado e, na sua opinião, não é um problema tão grande assim.

Você já falou com algumas pessoas e está esperando algumas informações antes de seguir adiante e contar para seu gestor, que até então não está sabendo.

Em paralelo, o seu gestor vai para uma reunião importante com outros gestores e demais diretores de outros setores da empresa.

Nessa reunião outra pessoa questiona seu gestor sobre o mesmo problema e como está afetando outros processos da empresa e que já foi identificado há alguns dias e ainda não foi posicionado como e quando irão solucionar.

No português claro, o seu gestor foi “pego de calça curta”.

victor catisse

Ele então diz que não estava sabendo, que vai avaliar a que retorna ainda hoje com o planejamento da implementação da solução.

Já viu este filme?

O problema em si, do processo, produto ou serviço, acaba de ficar pior por mostrar uma falta de comunicação do gestor com sua equipe. Dando até margem para os demais gestores e diretores questionarem a competência daquele gestor.

E o pior, em meio aos desencontros internos, o cliente do processo, produto ou serviço em questão, ainda sofre com a falta de solução enquanto o tempo continua passando. E a prática do romântico customer centric permanece só nos discursos e slides rebuscados.

Percebe o impacto?

Certo, mas quando e como devemos sinalizar um problema?

A primeira coisa que precisamos ter em mente é a de que devemos enfraquecer, todos os dias, a cultura do super-herói.

Ao longo dos anos nos escritórios foi desenvolvido a cultura de que precisamos ter sempre todas as respostas. A cultura de que antes de sinalizar um problema precisamos ter na manga os planos A, B, C e D. Com prazos, responsáveis e os primeiros resultados que já estão sendo colhidos, caso contrário você faria papel de fraco, se mostraria vulnerável no escritório.

Essa dinâmica tem gerado uma angústia e ansiedade nos profissionais. É preciso trabalhar em conjunto, com colaboração na solução de problemas e não só na construção de produtos e serviços

É no debate que grandes ideias são geradas.

victor catisse

Várias empresas já acordaram para isso. Se a sua ainda não percebeu, seja você o mensageiro desta transformação de cultura que a era digital nos trouxe — em conjunto somos mais inteligentes e rápidos.

Portanto ter um problema não é um problema. Os problemas são dos processos, dos produtos e dos serviços, e não das pessoas.
Não há mais espaços para mentalidades do tipo “…mas este problema não é meu…”, “…este problema não é da minha área!”.

O problema pode não ser meu, mas a solução sim, esta pode ser minha.

victor catisse

Muito bem. Mas, diante de um problema, o que fazer para garantir um boa comunicação e boa condução durante a solução?

Veja a seguir elementos importantes na hora de levantar a mão e dizer que existe um problema:

1. Problema identificado, comunique.

Identificou um problema relevante? Compartilhe com sua equipe e gestor. Pergunte se já passaram por alguma situação semelhante (gestor ou pares). Compartilhe a sua estratégia inicial de mapeamento e possível solução. Veja o que eles acham.

Em muitas situações, a pessoa na mesa do lado no seu escritório tem informações super importantes que podem ajudar e, por ficarmos tão imersos no problema, não olhamos para lado e nem ficamos sabendo por que simplesmente não compartilhamos o problema. Você vai se surpreender com a quantidade de informações e insights bacanas você irá colher deles.

Perdemos velocidade tentando levantar várias informações sobre o problema antes de reportar aos gestores, como na história contada no início deste artigo.

Portanto, problema identificado, compartilhe a sua existência com sua liderança para que você possa conduzir com o máximo de autonomia e transparência possíveis. Veja o exemplo a seguir de como você pode, de forma simples, reportar a identificação de um problema:

“Olá, bom dia.
Foi identificado um problema no processo XYZ. Estamos levantando todos os impactos para em seguida definirmos o plano de ação.
Até amanha no final do dia posicionaremos os próximos passos.
Obrigado.”

Desta forma você mantém o seu gestor informado, com transparência e sem perder autonomia e demonstrando segurança. Terá tempo para levantar as informações necessárias enquanto já estão todos avisados.

2. Mapeie o impacto deste problema:

Antes de tomar qualquer decisão de “solução” é muito importante você se certificar da causa raiz deste problema. Pergunte-se: O que gerou este problema em primeiro lugar?

Esta é uma das premissas mais importantes da filosofia de gestão Lean, a qual tenho abordado alguns de seus aspectos em outros artigos aqui.

Muito bem, agora é hora de levantar as informações relacionadas. Veja abaixo alguns questionamentos que podem lhe inspirar nesta investigação e definição dos próximos passos:

  • Qual a quantidade de clientes afetada?
  • Qual o potencial de reclamações em órgãos reguladores?
  • Qual o volume financeiro envolvido?
  • Quais são os outros setores da sua empresa que precisam ser envolvidos?
  • Alguém já passou por algo parecido? Como resolveram?
  • Quais são as primeiras opções?
  • Quais são os prós e contras de cada opção?
  • Quais são os riscos? 
  • Quanto tempo vai levar?
  • O que se pode fazer de forma paliativa?
  • Quais são os responsáveis e prazos?

Após você refletir sobre as principais causas e possíveis soluções. Defina o passo-a-passo claro com ações, responsáveis e datas.

3. Comunique e posicione os próximos passos na solução do problema:

Com o plano na mão, é hora de posicionar a sua liderança sobre os próximos passos. Veja abaixo o exemplo de e-mail em que você pode posicionar a liderança sobre a forma que você vai resolver o problema identificado.

“Olá, bom dia.
Conforme reportado, foi identificado um problema no processo XYZ. 
Informações gerais:

  • Clientes envolvidos
  • Impactos internos/externos
  • Volume financeiro comprometido
  • Riscos atrelados
  • Áreas internas envolvidas

Próximos passos na solução:

  • Ajuste no processo XYZ
    • data: dd/mm / resp.: fulano 
  • Melhoria no fluxo de documentação ABC
    • data: dd/mm / resp.: Ciclano
  • Troca de fornecedor para 123
    • data: dd/mm / resp.: Beltrano

Observação:

  • Manteremos um reporte semanal (via e-mail), às sextas, até normalização do processo.
  • Para maiores detalhes veja o material anexo.

Em caso dúvidas, me procurem por favor.
Obrigado.”

Comentários gerais:

Use o e-mail para comunicar os combinados e não para discutir as opções. Discussão deve ser feita pessoalmente, olho no olho.

Dessa forma você, com uma sinalização rápida do problema, aprofundamento e gestão dos próximos passos, você se tornará muito mais autônomo em seu escritório, demonstrará senioridade e maturidade. Vai gerar confiança na liderança e nos pares.

Cuidado ao querer resolver o problema sozinho, “mostrar serviço”, e perder velocidade, correndo risco de agravar a situação e de não manter a transparência com sua liderança.

Empodere-se. Seja você um apaixonado por resolver problemas. Aceite, eles sempre vão existir e você é pago para resolvê-los.

victor catisse

Portanto, veja o lado positivo. Quando aparecer um problema, chame-o de “seu” e dê um show na condução.

Compartilhe este conteúdo com os seus colegas de escritório. Contribua para a que cada vez mais tenhamos soluções estruturadas no mercado. Dessa forma teremos profissionais mais eficientes, áreas mais eficientes, empresas mais eficientes e, por que não, um Brasil mais eficiente.


Obrigado pela leitura e bem-vindos ao Carreira Talks. Aqui vocês encontram insights práticos sobre Carreira, Coaching e Filosofia Lean aplicados ao dia-a-dia corporativo.

Meu nome é Victor Catisse e minha paixão é ajudar pessoas a trabalhar de forma eficiente e eficaz.

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